terça-feira, 2 de abril de 2013

Videodrome (Canadá, 1983)



Filme: Videodrome: A síndrome do vídeo (Videodrome)
Diretor: David Cronenberg
Ano: 1983
País: Canadá
Duração: 87 minutos
Elenco: James Woods Deborah Harry Sonja Smits



Videodrome é o oitavo filme (sem contar curtas e produções para a TV) do genial diretor canadense David Cronenberg, que na época ainda fazia filmes de horror e suspense, como por exemplo Calafrios (Shivers, 1976), A Mosca (The Fly, 1986), Gêmeos - Mórbida Semelhança (Dead Ringers, 1988), Scanners (1981), Os Filhos do Medo (The Brood, 1979), entre outros. Cronenberg, além do horror, tenta com seus filmes passar importantes mensagens e críticas, mesmo que de formas bizarras e surreais. Outra característica marcante em sua filmografia é o chamado "body horror", onde são normais ocorrerem mutações nos corpos dos personagens, além de diversas referências ao sexo. Em Videodrome não é diferente, este talvez seja o filme mais surreal, repleto de violência e, possivelmente o meu favorito do diretor.

Max Renn (James Woods) é o proprietário de uma pequena emissora de TV a cabo, a Civic TV, e aparenta ser uma pessoa muito dependente da televisão, já que recebe os recados de sua secretária através de fitas de vídeo. Com seu canal, para obter maior audiência, transmite baratos programas pornográficos e violentos, coisa que os grandes canais não proporcionam. Sem se preocupar com o conteúdo dos programas apresentados, ele busca algo novo e mais extremo afim de satisfazer o público sedento por violência e sexo e, naturalmente, lucrar mais. Através de um técnico designado a encontrar sinais piratas de TV, descobre-se um canal clandestino cuja programação resume-se a torturas, estupro e assassinato, sem qualquer roteiro e aparentando ser algo bastante real, caracterizando o que hoje chamamos de filmes snuff. Este programa é denominado Videodrome e é exatamente o que Max estava procurando para o seu canal. À princípio o Videodrome é identificado como sendo uma transmissão vinda da Malásia, mas depois é constatado que o sinal vem dos próprios Estados Unidos, em Pittsburgh, e as mortes não são encenadas e sim reais, o que não impede Max de continuar em busca de tais atrocidades.

Ao assistir tais vídeos, Max começa a apresentar alucinações que confundem-se com a realidade e geram uma certa dependência do Videodrome, como se fosse uma droga. Segundo o professor Brian O'blivion, uma estranha figura que apenas aparece através da tela de uma TV, a televisão torna-se mais real que a própria realidade e esta passa a ser como uma extensão do próprio corpo humano, pois os raios catódicos emitidos formam tumores responsáveis por criar estas alucinações, além de outras mutações a serem mais detalhadas adiante.

Em um programa de TV com Max, o professor O'blivion que, como de costume, aparece na TV através da tela de outro aparelho, e Nicki, (Deborah Harry, vocalista do Blondie) que apresenta uma espécie de programa de auto-ajuda em uma estação de rádio, discutem a respeito dos efeitos na sociedade de programas violentos. Nicki, que à primeira vista parece não ser favorável a este tipo de programação, envolve-se com Max e mais tarde mostra-se uma adepta ao sado-masoquismo e interessa-se pelo Videodrome, querendo até mesmo participar do programa.

A filha do professor O'blivion mantém uma espécie de centro para emissão de raios catóditos aos pobres, que já estão dependentes de tais doses de programação televisiva. Algo semelhante a uma igreja onde a televisão é a religião e as pessoas são viciadas e aceitam cegamente tudo que vêm dela. 
Neste centro, Max descobre que O'blivion já está morto há algum tempo e é mantido "vivo" por sua filha através de fitas de vídeo. O'blivion conta que foi a primeira vítima do videodrome.

Abaixo algumas falas do professor O'blivion durante o filme:
"A batalha pela mente da América do Norte será travada na arena dos vídeos, o Videodrome. A tela da televisão é a retina da mente. Portanto, a tela da televisão é parte da estrutura física do cérebro. Portanto, o que aparece na tela da televisão surge como pura experiência para aqueles que assistem. Portanto, a televisão é a realidade e a realidade é menos do que a televisão."
"Acho que este desenvolvimento na minha cabeça, esta cabeça, esta aqui, não acredito que seja realmente um tumor, uma forma borbulhante descontrolada de carne, mas que seja, na verdade, um novo órgão, uma nova parte do cérebro. Acho que doses maciças do sinal do Videodrome criarão um novo desenvolvimento do cérebro humano, que produzirá e controlará a alucinação a ponto de mudar a realidade humana. Afinal, não há nada real, além de nossa percepção da realidade."

O nome O'blivion, que significa esquecimento, não é real, apenas um codinome usado nesta "realidade" do vídeo, algo semelhante ao que ocorre muito na internet atualmente.

O corpo de Max passa a sofrer mutações, abre-se uma fenda em sua barriga onde podem ser inseridas fitas de vídeo o programando, como se este fosse um videocassete e fazendo com que ele siga e tome como verdade tudo aquilo que vê pela televisão. Além disto, enquanto ocorre este processo de desumanização, coisas como a televisão e fitas de vídeo parecem ganhar vida e tornam-se mais humanas. Uma cena emblemática do filme é quando Nicki está falando com Max através da tela da TV e, quando ele vai beijá-la, é engolido pelo aparelho. Esta cena pode representar, assim como a forma de comunicação de O'blivion, que as relações estão cada vez menos humanas e feitas por vídeos, o que hoje pode ser substituídos por tecnologias como internet e telefones celulares.

O filme ainda mostra o duelo de dois grupos pela dominação do povo através da TV, uma organização que vende diversos produtos e que mantém o videodrome e outro grupo mantido pelo "virtual" O'blivion e sua filha, que são contra o videodrome mas defendem a "nova carne" e da mesma forma, produzem mutações no corpo humano, através de suas doses viciantes e alienantes de programação televisiva. Ambos conseguem programar Max facilmente.

No final, Max se vê suicidando-se na televisão, coisa que ele repete sem questionar, mostrando a auto-destruição causada pela tecnologia e a forma com que pode nos manipular.
Os ótimos efeitos especiais ficaram a cargo de Rick Baker, um dos melhores especialistas nesta área que também fez filmes desde o trash O Incrível Homem Que Derreteu, a outros como Um Lobisomem Americano em Londres, MIB, O Chamado, entre muitos outros.
Como de costume no cinema de Cronenberg, este é um filme complexo que necessita ser visto mais do que uma vez para ser melhor compreendido. Muitos poderão achar o filme confuso e sem sentido. Também é recheado de críticas sociais, às mídias, entre outros.

Este filme, apesar de ser produzido há 30 anos, mantêm-se atual com a TV e outros meios de comunicação (hoje, em especial a internet), nos despejando informações muitas vezes sem conteúdo, nos tornando dependentes e alienados, e nos fazendo esquecer de pensar e ter uma opinião, já que esperamos receber tudo pronto. Além disto, estes meios tem a capacidade de determinar tendências, comportamentos, modas, tornar as relações menos humanas, nos manipular facilmente e ser uma forte ferramenta de suporte para o capitalismo, com propagandas incitando o consumo, criando necessidades que não tínhamos.
Também não podemos deixar de considerar que estas tecnologias ainda podem ser úteis para ampliar nossos conhecimentos, mas tudo depende de como fazemos uso delas para assim evoluirmos e ao invés de nos auto-destruirmos.
A manipulação constante dos meios de comunicação pode afetar nossa percepção da realidade, assim, este profético filme antecede algo que foi abordado no filme que Cronenberg faria em 1999, eXistenZ, que acabou ofuscado por outro filme que trata do mesmo tema e lançado na mesma época, o Matrix.

Nota IMDb: 7,3
Minha Nota: 9,0

Para mais informações sobre este e muitos outros filmes trash, recomendo que ouçam o PodTrash, com um pessoal que realmente entende do assunto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário